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Dificuldade de acesso ofusca conquistas da imunoterapia contra o câncer

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02/09/2019

 

Em novembro deste ano, o tratamento de câncer por imunoterapia, que usa as defesas do organismo para combater a doença, completa 35 anos de história clínica.

A despeito da coleção de casos de sucesso que essa abordagem acumulou, sua disseminação ainda enfrenta as barreiras do alto custo e da indicação clínica tardia, em estágios avançados da doença. 

As comunidades médicas e de gestão da saúde estão trabalhando para amenizar esses entraves, mas é cedo para dizer quando a imunoterapia se tornará mais acessível.

A criação dessa nova classe de tratamento partiu da constatação de que, para crescer, o câncer precisa enganar o sistema imune, as estruturas de defesa do corpo, que naturalmente é programado para atacar células tumorais. A ideia era, então, burlar esse disfarce usado pelo tumor ou recrutar células que pudessem reconhecê-lo como inimigo.

Sob o nome imunoterapia, porém, existem diversas técnicas. O que elas têm em comum é o uso de moléculas produzidas pelo sistema imune para combater tumores, seja com um remédio que ajuste o sistema imunológico do próprio paciente ou com células produzidas em laboratório. 

Os medicamentos mais usados dessa classe são os chamados inibidores de checkpoint. Eles funcionam ao desativar um mecanismo molecular que impede as células tumorais de serem alvejadas por linfócitos-T, células de defesa. 

A primeira prova de conceito da imunoterapia data de 1984, quando uma paciente com metástase de câncer de pele apresentou uma recuperação extraordinária após ser tratada no Instituto Nacional de Câncer dos EUA com interleucina 2. A molécula fez com que os linfócitos da mulher passassem a atacar o tumor.

O amadurecimento da imunoterapia levou muito tempo, sobretudo porque sua eficácia parecia errática, e médicos não sabiam prever quais pacientes responderiam melhor.

Muitos doentes tratados apresentavam efeitos colaterais autoimunes, com o organismo atacando órgãos saudáveis. Aprimorando a técnica, especialistas conseguiram expandir a terapia para diversos tipos de câncer.

A ANS (Agência Nacional de Saúde) já aprovou no Brasil imunoterapias para melanoma metastático, câncer de bexiga, um tipo de câncer de pulmão, linfomas de Hodgkin, tumores de cabeça e pescoço e câncer gástrico. Eles podem ser tratados com cinco drogas.

Em 2018, pela primeira vez, o NHS, o sistema universal de saúde do Reino Unido, incorporou inibidores de checkpoint ao cardápio de terapias oferecidas em hospitais públicos.

No Brasil, um projeto piloto no Hospital do Amor (antigo Hospital do Câncer de Barretos-SP) está oferecendo essa classe de imunoterapia a um número limitado de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). O programa foi possível em função de uma parceria com o laboratório MSD.

A imunoterapia tem entrado de forma gradual na oncologia clínica porque é normal que novos tratamentos sejam oferecidos primeiramente a pacientes que não reagiram a métodos convencionais. À medida que a eficácia das drogas seja comprovada, a tendência é que alguns cânceres em estágios iniciais passem a ter indicação da terapia.

Poucos acreditam, porém, que o custo possa diminuir logo. Um estudo publicado em novembro de 2018 no Journal for ImmunoTherapy of Cancer avaliou o custo-benefício de drogas inibidoras de checkpoint nos EUA e listou instâncias nas quais o tratamento ultrapassava os US$ 100 mil por ano, chegando a US$ 170 mil em alguns casos. Comparando com os anos de vida ganhos pelos pacientes submetidos a terapias convencionais, alguns imunoterápicos foram considerados de bom custo-benefício, outros menos.

“Para inibidores de checkpoint, o custo depende do tempo de uso, mas temos visto no Brasil valores da ordem de R$ 600 mil por ano”, diz María del Pilar Estevez Diz, oncologista do Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira). 

Uma esperança de barateamento está nos biossimilares (os genéricos das drogas biológicas). Neste fim de ano, o laboratório Libbs deve colocar no mercado o primeiro, para tipos de linfoma e leucemia. 

Pilar, porém, demonstra cautela. “A esperança era a de que os biossimilares chegassem com uma redução da ordem de 40%, mas não é isso que tem sido observado, é algo mais próximo dos 20%.”

Por causa do custo, o acesso no Brasil tem sido restrito. O Icesp tem realizado testes com imunoterápicos, oferecendo o tratamento a pacientes que não teriam condições de obtê-lo na rede privada.

No mundo, a despeito do preço, estratégias modernas de imunoterapia têm avançado porque apresentam resultados com egressos de quimioterapias mal sucedidas. 

Uma maneira de ajudar na universalização é saber identificar quem tem maior chance de se beneficiar.

Kenneth Gollob, imunologista do A.C. Camargo Cancer Center, de São Paulo, estuda justamente isso. 

“Estamos acompanhando 120 pessoas tratadas com inibidores de checkpoint. Estou procurando marcadores tumorais que possam indicar, antes do tratamento, quem vai ter uma resposta boa.”

Outra pesquisa, conduzida no Icesp, usa uma particularidade do câncer de colo de útero para atacar o tumor. Esse tipo de tumor, por ter sua incidência relacionada ao HPV, possui em seu DNA trechos do código genético do vírus. A terapia que os pesquisadores testam ali usa uma bactéria geneticamente modificada para estimular a imunidade contra uma proteína do HPV.

As particularidades de cada câncer abrem brechas para vários tipos de imunoterapia, mas o desafio do acesso torna difícil prever o quanto eles se disseminarão.

Fonte: Folha de S.Paulo

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